"Eu também sou vítima de sonhos adiados, de esperanças dilaceradas, mas, apesar disso, eu ainda tenho um sonho, porque nós não podemos desistir da vida."

Martin Luther King

sábado, 10 de dezembro de 2011

Uma Palavra

Não digas nada.
Apenas sente o momento a trespassar a tua pele, a desmanchar-te em ansiosas perguntas e arrepiar-te em profundos medos.

Não digas nada.
Sente o meu perfume num leve beijo de adeus.
Adeus à memória, adeus à esperança, adeus ao sonho e ao
prometido.

Não, não é preciso dizeres nada.
Tudo o que era para dizer já foi dito. Nem um ponto a mais, nem uma vírgula a menos.
Que estranho sentimento: nem nada falta nem nada resta...

Não digas nada. 
Apenas responde-me com a gratidão do teu olhar.
Também o sentes?
Este estranho sentimento de nada faltar e restar?

Espera.
Estou a ver um sinal. Tu choras. Os teu olhos dizem-me que sim, que também o sentes...
Não. Fica onde estás.
Olha para mim, não para o chão.
Não recues. Apenas olha-me.
Eu sei que já nada resta. Já tudo foi dito. Não há mais promessas nem mentiras.
E a reserva do que sentíamos (e que bonito que era) já se desgatou. E desintregou-se
em mil lágrimas partilhadas por ti, nesse teu mar de arrependimento - consigo-o ver pelos teus olhos.

Não digas nada.
Eu sei o que me querias dizer, mas já não vale a pena, já não faz diferença.
Já não restam mais palavras para tudo o que se passou,
apenas isto: um leve beijo de adeus.

Não digas nada.
Este silêncio entre nós será a nossa única memória que restará - sem pecado na alma e dor no desejo.
Este silêncio perpertuar-se-á nos teus momentos a sós, contigo próprio.
Até poderes, finalmente, dizer algo mais.

Até me poderes dizer  "Desculpa" .

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