"Eu também sou vítima de sonhos adiados, de esperanças dilaceradas, mas, apesar disso, eu ainda tenho um sonho, porque nós não podemos desistir da vida."

Martin Luther King

domingo, 19 de fevereiro de 2012

A Ilha Imaginarium

 Deixa-te estar, aí, na sombra dessa antiga àrvore.
Deixa-te estar a ouvir os sons da Natureza. Dos pássaros a chamar e dos coelhos a saltitar.
Continua a ler, a imaginar essas bonitas paisagens, desses campos verdejantes repletos de papoilas e margaridas, que te convida a te perderes nele, de bom grado. Continua a viajar por essas longas ilhas perdidas, no meio do mar, como que esquecidas e lembradas por ninguém. 
Continua a andar, meio perdido meio recordado desses deja vus, desses rios e caminhos, por onde ninguém anda, apenas tu.

Apanhas agora o barco, rumo a outra ilha. Mais uma entre todas aquelas, sonhadas... Arrancas agora uma das muitas perdidas num dos baús, desta vez do baú dos mistérios.
Arranjas paciência e andas mais uma vez perdido por esses caminhos, caminhos confusos da tua imaginação.
Mas lá a encontras, essa ilha chamada Imaginarium.
Primeiro relembras-te de todos os seus ficheiros: imagens, cheiros, emoções, toques e sons. Depois pegas nessa linha imaginária, a linha que te separa do resto do mundo. Agarra-la bem, e assim te despedes, por um momento, daqui.

Olhas agora pela janela do comboio Saudade. Vês todos os animais mágicos a correrem a teu lado, ouves o barulho do comboio e vês também o fumo da sua chaminé. Olhas mais uma vez para o lado, e os teus olhos cegam-se com a beleza daqueles montes e àrvores, que parecem te querer escutar e te apoiar. Desta vez, são os voadores que te tiram a atenção. Espantas-te com a magia das suas cores vibrantes e completamente novas ao teu olhar, à tua razão. Parece que consegues cheirar as suas penas tão macias e suaves. Ouves os seus gritos de alegria por te verem, vê-los a voar de contentamento e fazerem belíssimos espetáculos no ar de cortar a respiração. Dão voltas, dão piruetas, dão quedas e subidas tão a pique, que quase que parecem que se vão despenhar, ou lançarem-se como um foguete para mais acima do seu céu.

De um momento para o outro o céu perde a sua cor amarelada, e passa a ter uns tons azulados e brilhantes. É a sua Lua a fazer o seu feitiço, a  lançar a sua magia para todo o ar envolvente. Agora ainda ficas mais sonolento e cansado, e ao mesmo tempo quase que apanhado na mente desta Lua. Tem cuidado, pois ela está de olho em ti. Lança-te esses seus brilhos, e leva-te a imaginar ainda outros novos horizontes: uns perigosos, outros assombrados. Acordas, ficas com medo da Lua, e amaldiçoas-la pelo susto que te pregou. Mas não a trates assim, ela simplesmente está a brincar. Tens de compreender que se sente só e que quando se recebe um visitante por estes caminhos, ela não perde a sua única oportunidade de pregar uma pequena partidinha...


Enfim, lá a perdoas, e ela já se sente mais realizada.
O comboio de repente pára. Tu não percebes porquê. 
Levantas-te e espreitas pela porta para veres o maquinista lá mais à frente da carruagem. Ele não está lá. Vais outra vez para o teu lugar e esperas um pouco, com esperança de que o comboio arranque mais uma vez.
Esperas 5 minutos, e nada. Espreitas pela tua porta, e olhas para a porta do maquinista. Essa porta parece que te sorri.
Esperas mais 10 minutos, e nem um som. Andas agora um bocado a pé pelo comboio, comboio esse estranho e misterioso, que nada te diz, mas onde ouves sons estranhos, como que um chamamento.
Esperas 30 minutos, e no final vais até ao lugar do maquinista. Sem sinal de vida, não está lá ninguém. Olhas pela sua janela, na cabide do suposto maquinista, mesmo à frente do seu volante e tudo mais. Através da janela, vês os ramos das árvores na rua, a se mexerem devido à brisa que corre lá fora. Olhas um pouco mais perto da janela, e para cima, para o céu, e vês todas as suas estrelas cintilantes e afáveis à vista. Passa uma lebre a saltitar. Pára à frente da carruagem, olha para ti, e tu para ela, e continua. Ouves agora uma madeira a ranger, é a porta ao teu lado a abrir-se, sozinha,não sabes como.
Dás uns quantos passos, desces as suas pequenas escadas, e estás na rua.
Vês outra vez essa lebre, e agora um pássaro. Meio azul, meio acizentado. Olha para ti como que se tivesse a dizer "Bem vindo.".

Começas a estranhar todo aquele silêncio, e até mesmo a recear do que possa estar para vir.
Então, decides saber do que se passa.
Quando dás mais um passo em frente, o comboio arranca. Começas a correr atrás dele, ele anda mais depressa. Dás mais velocidade à tua corrida, mas sem efeito. Começas a chamar pelo maquinista ou pelo comboio, já nem sabes tu, a dizer "Espere, espere por mim. Não me deixe aqui!". Mas nada, o comboio ainda anda mais rápido.

Já o vês lá bem ao longe. Não percebes porquê, mas tens a sensação do comboio ter ganho vida e te ter deixado ali de propósito. Mas deixas de pensar nisso e esse pensamento vai-se em vão.

Agora que estás totalmente perdido nessa Floresta, ficas com medo. Ouves um som e assustas-te. Sentes alguém tocar-te no ombro, como que a reconfortar-te, arrepias-te, olhas para trás. Nada. Vês então uns ramos de uma árvore a esvoaçarem. Treme para cima e para baixo, para cima e para baixo. É o vento, pensas tu, mas enganado.
Apercebes-te de um caminho de terra à tua frente, e chama-te a atenção uma determinada árvore e nela te deitas. Adormeces, deixas-te cair no sono, e desapareces.

Agora já é de dia. Os pássaros já cantam as suas melodias. Os caracóis, recomeçam as suas demoradas caminhadas. Os esquilos começam a apanha das suas preciosas bolotas. E os coelhos, juntam-se todos para uma jogada de cartas. Estranho? Sim.

Acordas, e apercebes-te desse teu deja vu, desse teu sentimento de saudade. Um coelho, meio esquecido, meio recordado aparece-te à frente e dá-te um Livro.
Começas a esfolheá-lo, lês a primeira página e deliciaste-te com a sua leitura. Chegas a uma página onde se encontra uma linda gravura. É uma ilha deserta, cheia de bosques e animais e uns pássaros de umas cores extraordinárias, que não existem em mais lado nenhum. 
Começas a imaginar como seria estar naquela ilha encantada. Adormeces. Começas a sonhá-la. Ouves um som na tua mente, parece a de um comboio. Esse comboio vai-se aproximando, até que pára, mesmo defronte de ti. Arriscas e decides entrar nesse comboio, que parou como que esperando por ti, não sabes bem porquê.
Lês o que diz o seu destino. O nome parece-te familiar. O seu destino é uma ilha, a ilha Imaginarium.

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